Se você trabalha com emissão de documentos fiscais eletrônicos, já deve ter notado: 2025 não é um ano comum. O cenário tributário brasileiro está passando por mudanças estruturais importantes — e elas afetam diretamente dois dos instrumentos mais usados no dia a dia contábil: a mudança da NFe e NFCe (Nota Fiscal Eletrônica – NF-e e a Nota Fiscal de Consumidor Eletrônica – NFC-e).
Pode parecer que é “só mais uma mudança no layout do XML”, mas não se engane: o que está por trás disso é um movimento claro de padronização, controle e antecipação à nova realidade fiscal que está sendo desenhada com a Reforma Tributária.
Neste artigo, vamos conversar sobre as principais mudanças na NFe e NFCe, por que elas ocorreram e, principalmente, o que você precisa fazer para garantir conformidade — e manter seu cliente tranquilo.
NFC-e com CNPJ? Não mais: entenda as novas regras
Vamos direto ao ponto. A NFC-e, modelo 65, não poderá mais ser emitida para destinatários com CNPJ a partir de 3 de novembro de 2025. Isso está claro no Ajuste SINIEF nº 11/2025. A NFC-e passa a ser, oficialmente, uma nota voltada exclusivamente para o consumidor final pessoa física.
Na prática? Se seu cliente tem um comércio e vende tanto para consumidores quanto para empresas, ele não poderá mais usar a mesma estrutura para todas as vendas. Vendas para pessoas jurídicas, mesmo presenciais no balcão, terão que ser feitas usando a NF-e modelo 55.
Sim, isso representa um impacto operacional importante. Mas não se preocupe: o SINIEF nº 12/2025 trouxe adaptações para que a NF-e também possa ser utilizada no varejo, sem tanta burocracia.
Como a NF-e foi adaptada para atender ao varejo
O legislador sabe que exigir uma NF-e completa com todos os dados de entrega, transportadora, endereço do cliente e etc. em uma venda no balcão não seria nada prático. Por isso, a partir de novembro, a NF-e passa a aceitar:
- Endereço do destinatário como campo facultativo, quando a operação for presencial ou com entrega imediata;
- DANFE simplificado, com layout mais enxuto, para vendas diretas em loja;
- Contingência offline permitida, com envio do XML até o primeiro dia útil seguinte.
Essas mudanças na NFe e NFCe tornam a emissão fiscal mais alinhada com a rotina do varejo e preparam os sistemas para um novo padrão.
Versão 4.0 e mudanças técnicas na NFe e NFCe
Se você atua com software emissor, já deve estar atento: a versão 4.00 da NF-e e da NFC-e chegou consolidando várias atualizações. Algumas delas foram silenciosas nos últimos anos, mas agora passam a ser essenciais. Veja só:
- Comunicação via TLS 1.2 ou superior;
- GTIN (cEAN/cEANTrib): obrigatório indicar o GTIN correto ou declarar “SEM GTIN”;
- Grupo de rastreabilidade: obrigatório para segmentos como medicamentos, bebidas, cigarros;
- Informações de pagamento: novos campos como vTroco, detalhamento de formas de pagamento;
- Fundo de Combate à Pobreza (FCP): campos obrigatórios em operações com ST interestadual;
- QR Code 2.0 na NFC-e: novo padrão para leitura e autenticação.
Esses ajustes são parte fundamental das mudanças na NFe e NFCe, e exigem revisão técnica detalhada.
NT 2025.002 e a Reforma Tributária: o que vem pela frente
Com a proximidade da implementação da nova tributação, é fundamental que as notas fiscais já estejam preparadas para refletir essa realidade. A adaptação ao novo modelo não é apenas uma exigência técnica, mas uma etapa crucial para garantir conformidade e evitar problemas com o Fisco.
A Nota Técnica 2025.002 trata da inclusão dos novos tributos criados pela Reforma: IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e o Imposto Seletivo.
Ela traz a criação de diversos grupos e campos no XML da nota, que passarão a ser validados obrigatoriamente a partir de janeiro de 2026. Já é possível homologar e emitir voluntariamente com esses dados desde julho de 2025.
Mudanças na NFe e NFCe: o que muda para o contador
Essas mudanças não afetam apenas quem emite a nota. Elas impactam diretamente o seu trabalho contábil, fiscal e até estratégico. Você precisa rever:
- A forma correta de emissão por modelo fiscal: NFC-e para CPF; NF-e para CNPJ;
- A atualização de sistemas: XML 4.0, comunicação segura, novos campos;
- O treinamento da equipe: modelos fiscais, GTIN, DANFE e pagamento.
Os riscos de não acompanhar as mudanças na NFe e NFCe
Quando falamos em adaptação às novas regras fiscais, não estamos lidando apenas com uma recomendação — estamos diante de uma exigência prática. E ignorá-la pode custar caro. Empresas que não se ajustarem às mudanças correm o risco de enfrentar uma série de consequências reais e imediatas.
A primeira delas são as rejeições na Sefaz. Com a obrigatoriedade da NF-e para operações com CNPJ e os novos campos exigidos pela NT 2025.002, qualquer detalhe incorreto ou ausente no XML pode travar a autorização da nota. Isso, na prática, paralisa a operação da empresa.
Além disso, usar o modelo fiscal errado — como continuar emitindo NFC-e para pessoa jurídica após o prazo — é passível de multa. E se a empresa não informar corretamente elementos como rastreabilidade de produtos ou dados tributários obrigatórios, como o GTIN ou os campos do IBS/CBS, ela pode ser autuada por falta de conformidade.
Outro ponto delicado é o crédito tributário. Sem a estrutura correta de informação nas notas, o Fisco pode simplesmente impedir que o destinatário da operação aproveite esses créditos — o que afeta diretamente a cadeia e a reputação da empresa emissora.
Por fim, ainda há o risco operacional: falhas na contingência, notas recusadas, retrabalho, e a famosa dor de cabeça no fechamento fiscal. Ou seja: não se adaptar é comprometer a saúde fiscal e operacional do negócio — algo que nenhum cliente quer viver.
Vale a pena acompanhar as mudanças na NFe e NFCe?
Sem dúvida, vale o esforço. As mudanças implementadas não se limitam a obrigações legais: elas abrem espaço para um ambiente fiscal mais seguro, estruturado e eficiente. A comunicação com o Fisco, por exemplo, torna-se mais protegida com o uso de protocolos modernos como o TLS 1.2, garantindo mais confiabilidade na troca de informações.
Além disso, a padronização dos documentos e a exigência de preenchimento completo dos campos criam um histórico fiscal mais consistente, que facilita tanto auditorias quanto o controle interno. Isso contribui diretamente para a redução de erros operacionais, uma dor comum em empresas que lidam com grande volume de vendas e emissões fiscais.
Por fim, essas mudanças trazem um benefício estratégico: mais dados organizados e disponíveis para análise tributária. Com um sistema fiscal mais detalhado, o contador pode atuar de forma mais consultiva, antecipando riscos e identificando oportunidades de crédito, planejamento ou melhoria de processos.
Acompanhe agora as mudanças na NFe e NFCe
Se você ainda não começou, o momento é esse. Atualize os sistemas, treine as equipes e revise os fluxos fiscais.
A partir de 3 de novembro de 2025, NFC-e para CNPJ será irregular. E em janeiro de 2026, a validação dos tributos IBS/CBS passa a ser obrigatória.
Você, contador, é a peça-chave dessa transição. Com planejamento e conhecimento, essas mudanças podem ser mais oportunidades do que problema.